Coesão textual: você sabe o que é?

Coesão textual: você sabe o que é?

urso Dissertando

Coesão textual: você sabe o que é?
Você já recebeu uma correção de redação e viu que o professor falou que era preciso melhorar a coesão do seu texto? Você sabia exatamente o que deveria fazer para melhorar? Se a sua resposta for não, então esse texto foi feito especialmente para você.

Em primeiro lugar, muitas vezes, a gente escuta alguns conceitos, acabamos repetindo o conceito, mas não dominamos a definição dele, nem muito menos temos ideia de como colocar em prática o aprendizado. Mas hoje, aqui, eu pretendo explicar o que seria a coesão textual, de uma forma objetiva e prática, para que as suas redações fiquem ainda melhores.

Antes de mais nada, vamos observar a definição técnica de coesão, de acordo com alguns autores respeitados no meio acadêmico e que são referências bibliográficas em vários concursos:

De acordo com Irandé Antunes, na Obra Análise textos: fundamentos e práticas (Parábola, 2010), a coesão concerne aos modos e recursos, gramaticais e lexicais, de inter-relação, de ligação, de encadeamento entre os vários segmentos (palavras, orações, períodos, parágrafos) do texto e faz com que um conjunto de palavras funcione como um texto. Para essa autora, é pela coesão que se promove a continuidade do texto, o que é essencial para que este se torne uno.

Já Ingedore Villaça Kock (Coesão Textual, Contexto, 1999) postula o seguinte: “a coesão é o modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido”. Dessa maneira, a articulação textual se dá a partir de elementos que operam como conectores entre frases e parágrafos, atribuindo, assim, aspecto de unidade ao texto.

Agora que nós já temos duas definições técnicas do conceito, eu vou tentar resumir para vocês o que seria a coesão:
Primeiro, você deve entender que a coesão é feita por elementos linguísticos, ou seja, por classes gramaticais, tais como pronomes, conjunções, advérbios. Além disso, a coesão também pode ser feita por um conjunto de vocábulos, como locuções, por exemplo.

Em segundo lugar, é importante você entender que esses elementos serão os responsáveis por “dar liga” ao texto e, assim, torná-lo uno (veja a definição acima. As duas autoras falam da unicidade). Ou seja, um texto que se preze, que seja claro, precisa de unicidade. Assim, caso o seu texto não tenha coesão, raramente ele vai ser um bom texto (às vezes sequer vai conseguir ser um texto).

Eu sei que tudo pode parecer muito técnico, mas vamos ver alguns trechos de textos sem coesão textual para que você tenha ideia do que se trata.
Exemplo 1:
“Marília é engraçada, muitas vezes fica de mau-humor”.

Veja que existe uma relação de sentido nesse texto. Marília é uma pessoa engraçada, porém isso não impede que ela, muitas vezes, fique mal-humorada. Repare que falta alguma palavra nessa frase para que a gente possa marcar essa ideia de adversidade.
Assim, uma reescrita melhor seria:

Marília é engraçada, mas, muitas vezes, fica de mau-humor.

Observação: repare como a coesão também estabelece uma relação com a coerência, ou seja, com a relação de sentido do texto. Isso porque, ao colocar a ideia “fica de mau humor” após o “mas”, aquele que escreve dá mais relevância ao que foi dito após o “mas”. Se a frase fosse “Marília, muitas vezes, fica de mau-humor, mas é engraçada”, eu quero dar ênfase ao fato de Marília ser engraçada, uma vez que tudo aquilo que vem depois do “mas” tem mais peso argumentativo. Esse assunto é bem importante, mas isso já é conversa para outro post.

Para que a gente possa fechar, vamos a outro exemplo:
“Muitas obras não foram entregues no governo passado, não havia recursos para a conclusão”.

Veja que existem duas informações claras, mas elas não estão ligadas, não estão conectadas. A fim de consertar isso, podemos colocar um conector de explicação, como “pois” ou “porque” antes de “não havia”. Assim, a oração estará completa, com coesão e com a coerência ainda melhor, pois foi explicado o motivo que levou a obra a não ser entregue.

Além desses marcadores textuais, a coesão também se dá de diversas outras formas.
Vejamos algumas dicas finais para que o seu texto fique coeso:

1) Tome muito cuidado com a pontuação. Frases longas demais ou períodos simples, sem conectores, podem gerar problemas de coesão textual.
2) Amplie o seu vocabulário. Quer uma dica? Use o dicionário de sinônimos. Ele é muito útil, pois assim evitamos repetição de palavras.
3) Estude estratégias de referência textual. É um assunto que cai muito em prova e você ainda aprende a usar na redação.
4) Estude as conjunções. Elas são essenciais para dar coesão sequencial ao texto.

Gostou das dicas? Para finalizar, eu vou deixar aqui um pequeno quadro de algumas expressões conectivas, com os seus respectivos valores semânticos/discursivos. Assim, você ganha mais repertório para a sua redação.

Até a próxima!

Valores semânticos de algumas expressões conectivas
Em primeiro lugar, primeiramente, notadamente, antes de mais nada –Em cima, acima, abaixo, adiante – Distribuição espacial.

Assim, desse modo, dessa forma, dessa maneira – Confirmação. Ilustração ou justificativa

E, ainda, assim como, aliás, além disso, ademais, não só….mas também – Acréscimo de um dado novo, de um novo argumento. Atenção: Usamos muito no começo de um segundo parágrafo de argumentação.

Quanto a, em relação a, no que se refere a – Abertura ou mudança de tópico. Usamos, geralmente, no primeiro parágrafo de argumentação.

Isto é, ou seja, quer dizer, por exemplo – Exemplificação. Podemos usar para comprovar a informação através de um exemplo. Os exemplos são ótimos para a comprovação da sua ideia.

Ou, ou melhor, ou antes, dito de outro modo, em outras palavras, mais precisamente – Reformulação ou retificação de uma ideia.

De fato, na verdade, na realidade, efetivamente, afinal, com certeza – Confirmação/admissão.

Mas, porém, contudo, por outro lado, em compensação, enquanto que – Adversidade, oposição. Quando inserimos um argumento contrário ao outro, com mais importância/mais relevância.

Mesmo, até, até mesmo, no máximo – Gradação. Esse tipo de recurso serve para quando queremos dar uma ideia de escala. Exemplo: Até os opositores concordaram com a ideia. Isso pressupõe que todos concordaram, pois numa escala de concordância, os opositores seriam os menos prováveis.

Porque, como, pois, porquanto, uma vez que, por causa de, em virtude de – Causalidade. Serve para inserir uma ideia de causa no seu argumento. Lembre-se de que as suas redações são baseadas na ideia da causa de um problema. Por isso, esses conectores são essenciais para a construção de um texto coeso.

De modo que, de maneira que, de sorte que, de forma que, em decorrência disso, consequentemente, por isso, com isso – Consequência. Serve para mostrar a conseqüência de uma causa. São de extrema importância na redação.

A fim de que, para que, com o propósito de, com a pretensão de, com o objetivo de – Finalidade. Esses costumam ser usados na conclusão da redação, mostrando com qual finalidade/objetivo a proposta de solução vai mudar algum problema.

Embora, conquanto, ainda que, apesar de que, ainda assim, em que pese, a despeito de, malgrado, por mais que – Concessão. Esses elementos também ajudam a inserir uma ideia de oposição ao argumento anterior, mas não suficiente para anular esse argumento. Exemplo: Ainda que o governo ajude os microempresários, a crise desencadeada pela COVID19 vai gerar muito desemprego.

Logo, portanto, então, assim, em conclusão, desse modo, dessa forma – Conclusão. Serve para encerrar uma ideia. Normalmente, pode ser usada no começo da sua conclusão.

Como, tanto quanto, tanto como, mais que, menos que – Comparação.

Provavelmente, talvez – Eventualidade.

Conforme, segundo, consoante – Conformidade.

Se, caso, a menos que, salvo se, exceto se, a não ser que, contanto que, desde que. Condição ou formulação de hipótese.

Quadro ilustrativo adaptado de Antunes, Irandé. Análise de textos, fundamentos e práticas. Parábola,2010.

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